Você é hipocondríaco? Veja o que está por trás da mania de doença.
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O temor
infundado em portar doenças graves e incuráveis pode causar estresse e
ansiedade; conheça os tratamentos
Transtorno
hipocondríaco atinge 5% da população brasileira. Medo excessivo de estar doente
gera estresse e perda de qualidade de vida, mas há tratamento.
O cenário é
clássico: alguém espirra, a pessoa ao lado já pensa que contraiu todos os
germes que foram para o ar e começa a tomar remédios por conta própria para
tentar evitar que a morte, então certa, se concretize. Aquele que está gripado
também pode pensar que o espirro fragilizou algum vaso no seu cérebro e que
sofrerá um AVC hemorrágico em
breve. E o pior, se o espirro for acompanhado de tosse, o
autodiagnóstico de tuberculose é claro como o dia. No entanto, a resposta dos
médicos para atitudes assim é uma só: hipocondria.
Cerca de 10
milhões de brasileiros sofrem com o temor de que estão com doenças sérias e
desconfiam do diagnóstico do médico que pediu exames e comprovou que não era
nada sério. A doença, chamada de transtorno hipocondríaco, cresceu com a
internet, já que cada hipocondríaco têm muitas vezes mais acesso a informações
sobre doenças, o que o leva a acreditar que é portador de todas elas. É como
uma dor imaginária: ela não está presente, mas como a pessoa está altamente
sugestionável, acaba apresentando até mesmo os sintomas.
Ansiedade
descontrolada
Relacionado
com o transtorno de ansiedade e até mesmo com o transtorno obsessivo compulsivo
(TOC), a hipocondria gera uma ansiedade desordenada no organismo, causando
angústia em quem sofre com a doença. A psiquiatra Giulia Miranda Rosa Santoro,
da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), explica que a doença não tem
grau, mas sim associações com outras patologias.
“É preciso
ver se junto disso a pessoa é ansiosa, se está passando por problemas
familiares, sociais ou econômicos, se está desenvolvendo algum outro tipo de
doença”, explica a especialista. Além disso, uma personalidade emocionalmente
dependente, como a médica define como ser “mais teatral”, pode ser uma das
explicações para a hipocondria.
“Às vezes ela está deprimida e sente uma série
de coisas, que na verdade fazem parte do quadro de depressão”.
A boa
notícia é que a doença tem tratamento. Giulia explica que a base é a
psicoterapia. “Tem de fazer a terapia, mas é preciso também avaliar se a pessoa
não tem outros problemas. Se for depressão ou ansiedade com sintomas obsessivos
compulsivos, é preciso entrar com medicação”, explica a médica, que também é
responsável pelo serviço de parecerista de psiquiatria do Hospital Badim, no
Rio de Janeiro.
A médica
ainda relembra que a depressão não envolve somente tristeza, mas sim outros
sintomas corporais, como cansaço, pensamentos negativos, além de outros sinais.
Apoio de
medicamentos
O
psiquiatra Luís Gustavo Buzian Brasil, da Clínica Maia, explica que os remédios
ajudam a controlar a ansiedade, deixam a pessoa mais calma e tranquila e com
capacidade de absorver informações. Buzian ressalta que a terapia vai dar o
mecanismo para a pessoa lidar com essa ansiedade depois, e que é de extrema
importância seguir as recomendações. “O tempo de tratamento depende do
comprometimento do paciente”, explica.
Para aqueles pacientes que não são
comprometidos ou que não buscaram ajuda ainda, a preocupação médica é a prática
da automedicação. De praxe, ninguém deveria tomar remédios sem recomendação
médica. Sabe-se que muitos escorregam nesse preceito quando estão resfriados,
com dor de cabeça ou alguma outro problema mais simples. Se para essas pessoas
que esporadicamente desobedecem o médico a automedicação faz mal, imagine para
quem visita a farmácia com a mesma frequência da padaria, pedindo remédios para
males que ele mesmo se diagnosticou.
“Isso pode
causar outro tipo de problema, como uma intoxicação e problemas gástricos”,
alerta Buzian. “Muitos se automedicam por não confiar no médico, sempre estão
buscando novas opiniões, afirmando ‘tenho alguma coisa!’”, diz.
“Mesmo os
médicos falando que ela não tem doença, a pessoa acredita que tem, e procura
outro médico, porque tem certeza de que tem alguma doença”, comenta a médica da
ABP.
Não se sabe
exatamente como a doença surge
O motivo de
a doença surgir, no entanto, ainda é nebuloso para a medicina. Como a maioria
das outras doenças psiquiátricas, ela tem fundo genético, que em parte colabora
com a doença, mas o próprio ambiente em que a pessoa se encontra acaba por
agravar o quadro.
“Se a
pessoa vive cercada de indivíduos com saúde comprometida ou se está em um
quadro depressivo, pode absorver as informações erradas com característica
negativa”, alerta o médico. Como em um espelho, ela vai enxergar em si mesma
sintomas e características que não tem. “Se é uma dor de cabeça, vai pensar
logo na consequência mais drástica, como um tumor cerebral”, diz o psiquiatra
da Clínica Maia.
“Ninguém
nasce 100% hipocondríaco. Tudo depende da história da pessoa, da genética,
hereditariedade e história de vida dela”, explica Giulia.
Há mais
hipocondríacos na vida adulta e entre as mulheres, mas os homens não escapam da
doença.
O primeiro
passo para quem tem medo de que algo terrível aconteça com relação à saúde,
portanto, é procurar o psiquiatra para o tratamento. Depois isso, os anos
provavelmente transcorrerão com mais leveza.