O que vem à sua cabeça quando escuta "fim de ano"?
A ansiedade é uma sensação normal e nem sempre ruim. Ela faz parte do instinto de proteção, pois dispara para deixar o cérebro mais ligado em situações de perigo ou estresse. No fim do ano, quando tem tanto acontecendo – prazos chegando ao fim, festas cheias de emoção, balanços etc – é normal ficar mais estressado e, logo, mais ansioso. "É importante ter consciência de que isso acontece, porque assim a pessoa se 'vacina'", diz o médico e psiquiatra Cyro Masci. Ou seja, tomando consciência do aumento da pressão, fica mais fácil entender que essa fase é passageira e, dessa forma, manter a calma.
Para boa parte das pessoas, os encontros com a família e amigos não são emocionantes e lindos como nos comerciais de TV. Geralmente, essas reuniões nos obrigam a (re)visitar emoções nem sempre fáceis, como a perda de alguém querido, e também a rever pessoas com quem não nos damos tão bem. "Muitas vezes, a existência desses sentimentos negativos gera ansiedade, por ameaçar a idealização de que o Natal deveria ser um momento de harmonia", explica o psicólogo Artur Scarpato. "A pessoa fica ansiosa por não estar sentindo tudo aquilo que acha que deveria estar sentindo, o que acentua os sentimentos de inadequação – como se ela fosse culpada por não estar tão feliz", completa. Então, aceite seus sentimentos – não há nada de errado em não estar no auge da alegria durante a troca de presentes ou na noite da virada. E evite criar expectativas grandes demais para as festas. Assim, você se abre ao que vier e pode até ser surpreendido positivamente.
Culturalmente, nos educamos a fazer uma lista de metas ou desejos nessa época. Mas enumerar o que "falta fazer" pode gerar mais ansiedade – de certa forma, você está pensando no que ainda não tem ou não conseguiu. Tente fazer o exercício oposto. Dedique alguns minutos a pensar sobre as conquistas, os planos que deram certo e as surpresas boas de 2013. Depois, anote-as. Colocar no papel é importante, porque organiza o pensamento e não deixa a mente se focar nas experiências ruins. "Só o fato de reconhecer o que recebeu de bom vai aumentar o nível de felicidade", diz Cyro Masci. "Assim, você tira o foco do negativo e ilumina o positivo".
Não abre mão da lista de metas para o ano seguinte? Tudo bem. Mas busque fazer isso de maneira mais profunda. Entenda bem as suas metas. Um exemplo: você coloca na lista "ganhar mais dinheiro". Qual a razão desse desejo? "Para viajar mais". Por quê? "Para ampliar os horizontes." Pronto, chegou ao ponto. Analise outras possibilidades. Será que fazer um novo curso não terá o mesmo efeito? "É preciso entender o motivo por trás de cada desejo. Dessa forma, você vê o que é necessário mudar na sua vida de verdade", diz Cyro. Sabendo bem o que quer, você diminui a própria inquietação, um dos alimentos da ansiedade.
Não só naqueles que vai colocar embaixo da árvore. Se pensar no que estar por vir deixa você preocupado, busque se concentrar no agora. Toda vez que estiver fazendo projeções, olhe em volta, pense somente no que quer realizar ou fazer neste momento, hoje. "Deixe o futuro para lá um pouco. Apesar de podermos fazer planos, nunca sabemos com certeza o que vai acontecer", diz o terapeuta cognitivo-comportamental Bernard Pimentel Rangé, autor de "Vencendo o Pânico" (ed. Cognitiva). E acredite: tudo tende a dar certo. "As pessoas com esse tipo de preocupação sempre acham que algo ruim vai acontecer e que não saberão lidar com aquilo. Mas as coisas, em geral, funcionam", diz Bernard.
A vida não tem que mudar de repente porque estamos em um determinado dia. "É uma data como outra qualquer. Nós é que criamos essa ideia de que a partir daí tudo deve mudar", diz o psicólogo Cyro Masci. "Poderíamos comemorar um reinício de vida a cada seis meses, por exemplo", completa. Toda transformação é resultado de um processo. Ter isso em mente ajuda a tirar o peso do fim do ano e alivia a sensação de acúmulo de tarefas e a frustração por não ter cumprido todos os objetivos traçados antes. Eles ainda podem ser realizados.
A pressa deixa a respiração acelerada, muitas vezes, sem nem percebermos. Quando se sentir tomado pela ansiedade, inspire e expire lentamente até se sentir mais calmo. Esse exercício oxigena o cérebro e, além de te desacelerar, também ajuda a pensar melhor. Na mesma linha, os especialistas recomendam a meditação, pois a prática fortalece a capacidade de regular emoções.
Sabe aquelas atividades que fazem você esquecer as urgências, os problemas, a vida? Se não sabe, hora de descobrir. Por exemplo: nadar, andar ou correr no parque, dançar, fazer algum tipo de artesanato... Não abra mão delas. Reserve um tempo toda semana para dedicar a um hobby ou ao lazer. "A vida tem ficado muito no universo profissional. As pessoas precisam lembrar que têm amigos, família e lazer", alerta a médica homeopata Aurea Pascalicchio. E invista também nos mecanismos que ajudam a escapar daquilo que provoca a ansiedade, como o estresse. "São atitudes como mudar o horário de chegada no trabalho para pegar menos trânsito. Ou resolver um conflito que vem adiando", diz Aurea.
Reforce sua dieta com alimentos com triptofano, o aminoácido que ajuda na formação da serotonina, que é o neurotransmissor da sensação de relaxamento, inimigo do estresse. Alguns deles são: grãos, biscoitos e massas integrais, queijo, leite, castanha de caju, amêndoas, nozes, feijão, ervilha e frutas como banana, melancia, melão e abacate. Ah, e chocolate também! Especialmente aqueles do tipo meio amargo.
Ser generoso e se envolver com atividades voluntárias aumenta a satisfação pessoal e a autoestima. Isso deixa você mais feliz e, logo, alivia a ansiedade. Da mesma forma, faz muito bem abraçar quem você gosta. Uma pesquisa feita na University of Vienna, na Áustria, divulgada no início de 2013, mostrou que o abraço de uma pessoa querida provoca a liberação de oxitocina, o hormônio do amor, o que reduz o estresse, o medo e a ansiedade. "São coisas simples que fazem toda a diferença", diz Aurea.